"E a história humana
não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais.
Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas do
subúrbio, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos
namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde
e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma
traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas
e as coisas que não tem voz.” Ferreira Gullar
Em 2014, para além de ser o ano da Copa do Mundo, que
promete intensos movimentos, lembraremos os 50 anos do golpe militar que tomou
nosso país por longos 20 anos. Eu nasci em julho de 1970, o povo ainda
comemorava o tricampeonato mundial, no jogo que o Brasil venceu por 4 x 1 da
Itália, no México.
Era a Copa do “Brasil, ame-o ou deixei-o”, em pleno
recrudescimento da repressão após o decreto do AI-5, promulgado em 13 de
dezembro de 1968. Apesar de ser criança e viver em um lugar afastado dos
grandes centros, o clima de medo e histórias de terror chegavam em minha casa.
Lembro de um vizinho, que hoje sei que era militar, contar cenas de tortura que
povoaram meus sonhos. Também na escola, nos meus primeiros anos, convivi com
castigos físicos, como ajoelhar no milho. Nunca passei por isso, mas da sala de
aula escutávamos os gritos de dor, enquanto fazíamos de conta que nada
acontecia.
A partir do dia 10 de março, vou postar um artigo por dia.
Vou acompanhar Kátia. Precisamos de reflexões lúcidas para uma boa leitura da realidade que estamos vivendo. No momento, só consigo ter certeza que a verdade está bem longe das notícias veiculadas em nossa imprensa institucionalizada.
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