Como reconhecimento do seu papel de melhor jornal do movimento popular do país, o JTST recebeu em dezembro de 1986, o Prêmio Herzog. |
No Encontro Regional de 1982, o "Boletim Informativo da
Campanha de Solidariedade aos Agricultores Sem Terra" é indicado pelos
colonos como o órgão de divulgação das lutas dos cinco estados presentes. Já a
partir de abril de 82 (nº 20) o Boletim passa a ter um projeto gráfico e ser
impresso em off-set. Diminuiu o número de páginas para quatro e aumentou a tiragem
para 1.500 exemplares. A cruz, símbolo dos acampados de Nova Ronda Alta,
tornou-se o logotipo do Boletim, que continuou a ser editado pelo Comitê de
Apoio.
O Boletim nº 25, de julho de 82, publicou na capa o
editorial "Boletim Sem Terra será Regional", onde colocou a decisão
tomada no encontro de Medianeira: “Esta decisão revela a importância do boletim
e aumenta a responsabilidade de seus responsáveis pela contribuição às lutas
populares no meio rural. A decisão dos colonos de indicar o "Sem Terra"
como seu órgão informativo dá um novo impulso ao boletim, mas os recursos
materiais disponíveis e as condições continuam precários. Portanto, o leitor
não deve esperar dos próximos números mudanças profundas em nosso informativo.
Elas virão com o tempo e serão fruto da semente regada com o esforço e o
sacrifício de quem deseja melhorar cada vez mais esta contribuição à luta dos
trabalhadores rurais.”
No número seguinte, agosto de 82 (nº 26), pela primeira vez
é divulgada a tiragem no boletim, que passou a ser de 2.500 exemplares e a
circulação que abrangia a Regional Sul. O nº 28, de outubro, destacou o
Encontro Nacional e anunciou uma edição especial sobre o mesmo que saiu em oito
de novembro, com uma tiragem de 3.000 exemplares. Em 1983 foi fundado o Centro
de Assessoria Multiprofissional (CAMP), onde passou a ser realizada a produção
gráfica do Boletim, a partir de abril (nº 31). Nesta edição o número de páginas
aumentou para oito.
O Boletim não circulou durante três meses (junho, julho e
agosto) porque o Comitê de Apoio que o realizava assumiu a Secretaria Regional
do MST, decisão tomada em janeiro de 83, durante o 2º Encontro Regional, em
Chapecó (SC), o que impossibilitou a edição do mesmo. Esta informação foi
divulgada no Boletim nº 32, de setembro, que saiu com doze páginas.
A partir de novembro de 1983 (nº 33) o Boletim passou a ser
responsabilidade da Secretaria Regional dos Trabalhadores Sem Terra. Esta
edição é considerada histórica pelos editores, pois inaugurou uma nova fase do
movimento. Além de trazer uma reportagem especial sobre Ronda Alta, onde ao
final de três anos, as 200 famílias que lá estavam acampadas conquistaram um
pedaço de terra.
O Boletim passou a ser, oficialmente, o Informativo dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra da Regional Sul, com jornalista responsável
(Flademir Araújo), responsáveis pela arte (Humberto Monteiro, Laerte Meliga,
Celso Schröder e Antonio da Rocha), pela distribuição (Marcelo Boufler) e
colaboradores (Chico Daniel, Rafael Guimarães e Antônio Carlos, de Brasília). A
tiragem é de 5.000 exemplares e o número de páginas, dezesseis. O Boletim tem
um novo projeto gráfico e a produção continua a ser realizada no CAMP.
Com o crescimento e a institucionalização do MST o
"Boletim Sem Terra" virou Jornal (nº 36), em julho de 1984. Sua
edição permaneceu sob a responsabilidade da Regional Sul, sediada em Porto
Alegre. Ele passou a ser denominado "Jornal dos Trabalhadores Sem
Terra". Este fato foi divulgado no número 35 (abril de 1984), em nota na
página dois, intitulada "Vem aí o Jornal Sem Terra", que diz o
seguinte: “Em junho está prevista a primeira edição do Jornal dos Trabalhadores
Sem Terra, formato tablóide - isto quer dizer, o dobro do atual boletim - 12
páginas, tiragem inicial de 10 mil exemplares e com circulação na Regional Sul
e outros estados do país. A decisão de transformar o boletim em jornal foi
tomada durante o Encontro Nacional dos Sem Terra, realizado em Cascavel (PR),
no começo do ano. Uma equipe de 10 jornalistas trabalhará na edição do jornal
que vai continuar com a colaboração dos próprios lavradores, pessoas ligadas ao
trabalho pastoral, sindicalistas e estudiosos da problemática agrária.”
O número inaugural do Jornal dos Trabalhadores Sem Terra
(JTST) saiu em julho de 84 (nº 36) e dedicou longa matéria ao assunto -
"Depois de três anos um novo desafio" - onde faz um histórico do
"Boletim Sem Terra" e afirma sua importância para o movimento. Daí a
decisão de transformá-lo em jornal do MST com circulação nacional. Diz a
matéria: “Durante o encontro (Cascavel/PR, janeiro de 84) os participantes
decidiram que o "Boletim Sem Terra" deveria ser transformado num
jornal, já que o movimento era reconhecido como uma organização autônoma e
necessitava de um órgão de divulgação forte, amplo e que atingisse todo o país.
A partir daquele encontro foi elaborado o projeto do jornal, que foi aprovado
no encontro de Curitiba.”
O artigo afirmava que o êxito do jornal dependeria
fundamentalmente dos próprios trabalhadores rurais sem terra, que deveriam
sugerir matérias e assuntos a tratar, discutir com seus companheiros, avaliar
seu conteúdo e fazê-lo chegar a um maior número de trabalhadores nos locais
mais distantes do país para que ele pudesse atingir um grande número de
leitores; que sua importância dependia da contribuição efetiva que pudesse dar
para o avanço da organização dos sem terra e para o sucesso de suas lutas; que
o MST iria continuar crescendo na luta pela Reforma Agrária, e o jornal deveria
acompanhar este crescimento com a participação de todos.
Logo após o Congresso de 85, a edição do JTST passou para a
responsabilidade da direção nacional do MST, embora permanecesse temporariamente
em Porto Alegre. Assim, a edição especial do jornal sobre o I Congresso
Nacional - nº 42, fevereiro de 1985 - já foi assumida como uma "publicação
mensal do MST" e não mais uma publicação da regional sul do movimento.
Passo a passo o jornal foi refletindo o crescimento do MST.
No nº 43, de março/maio de 1985, o Jornal Sem Terra muda de endereço: sua sede
vai para São Paulo. Nos créditos foi publicado o nome do jornalista Flademir
Araújo como editor-responsável e o seu colega Sérgio Canova como editor, além
de toda a diretoria do Movimento Sem Terra eleita no congresso de Curitiba. Em
uma nota "Aos Leitores" deste número do jornal, tem-se a
justificativa de sua transferência para São Paulo: “A transferência para São
Paulo, centro político mais importante do país, indiscutivelmente, é explicada
pelas facilidades que trará à organização dos Sem Terra, tanto do ponto de
vista político, como de estrutura e de divulgação de seu movimento.”
O jornal torna-se o porta-voz do MST divulgando os seus
princípios estabelecidos desde o I Encontro Nacional e referendados nos
encontros e congressos posteriores. Estes princípios são: 1. lutar pela reforma
agrária; 2. lutar por uma sociedade justa e igualitária e acabar com o
capitalismo; 3. reforçar a luta pela terra, com a participação de todos os
trabalhadores rurais, sejam arrendatários, meeiros, assalariados e pequenos
proprietários, estimulando a participação das mulheres em todos os níveis; 4.
que a terra esteja nas mãos de quem nela trabalha tirando seu sustento e de sua
família; 5. o Movimento dos Sem Terra deve sempre manter sua autonomia
política.
A bandeira de luta desde sua criação - "Terra não se
ganha, se conquista" - e seu lema atual - "Ocupar, resistir e
produzir" - explicitam e implicam uma valorização de formas de luta mais
incisivas (ocupações e acampamentos) e um enorme esforço de organização.
Segundo as deliberações dos encontros e congressos
realizados pelo movimento, ele se propõe não apenas a lutar pela realização da
Reforma Agrária, mas também pela construção do socialismo. Assim, "os
objetivos da luta empreendida", segundo informações do jornal do MST, "vão
além da resistência e conquista da terra. Pretendem contribuir para a
modificação das relações sociais no campo e a consecução de uma 'sociedade
socialista igualitária', deixando clara a existência de um projeto político,
que os leva a direcionar suas ações, em todos os estágios de luta do MST, para
a formação de uma identidade política mobilizadora".
Esta visão pode ser encontrada nas páginas do JTST, seja
através dos editoriais, textos de formação ou artigos de colaboradores, pois o
jornal registra a história do movimento e também do Brasil, sob a ótica dos
trabalhadores rurais. O jornal reflete todas as fases vividas pelo MST, assim
como os seus avanços em termos de organização e estrutura.
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